sábado, 25 de setembro de 2010

Encontros num telhado.





Madrugada, talvez umas 4 horas da manhã. Não sei, o relógio está longe e nas minhas circunstancias isso já não importa. Acordei, de novo no meio da noite, acendi o cigarro e fui ao encontro daquela foto... Anos haviam passado, mas a lembrança dela, do beijo, dos abraços, dos encontros às escondidas, do cheiro... Ah! O cheiro... Era tudo ainda tão minucioso.
Lembro muito bem. Está quase nítido. Ela sempre chegava primeiro nos nossos encontros escondidos num telhado. Lá de cima dava pra ver toda a cidade. Gostava tanto de faltar aulas de matemática para ficar com ela. Tudo era escondido por que ela não podia namorar um sujeito qualquer feito eu.
Ela era de família influente no bairro, eu morador da rua de baixo. Não era nada promissor ter um namorado feio, pobre, sem futuro. Mas nós nos amávamos e status não é tão importante quando se ama.
A cena dessa foto não sai da minha cabeça. Lembro-me bem quando ela pediu para que nós encontrássemos no meio da semana. Achei um pouco estranho, já tínhamos dias certos juntos. Apaixonado, fui sem nem perguntar o por que.
Ela me abraçou tão forte quando me viu. Só ela fazia eu me sentir tão especial. Passamos uma das tarde mais maravilhosas que já vivi na minha vida. Eu sabia que tinha algo de errado, podia sentir isso no olhar dela. Olhava-me como se o mundo fosse acabar em instantes, e seus beijos pareciam suplicas de amor e perdão. Perguntei inúmeras vezes o que havia acontecido e ela falava que só tinha sentido uma saudade arrebatadora.
Depois do pôr-do-sol ela se despediu de mim. Como todas as outras vezes, ela saiu na frente, pra que ninguém nos visse juntos, e eu ficava lá de cima do telhado olhando ela subindo a rua. Deu-me o ultimo beijo e falou que me amava. Desceu do telhado, deixando pra trás aquele perfume de rosas que eu amava tanto.
O dia seguinte era dia de matar aula de matemática e ir ao encontro dela. Ela não foi. Não foi no outro, nem no outro...
Eu sabia que havia algo errado, só não quis acreditar que ela podia me deixar assim. Não sei pra onde foi, nem porque foi, nem como foi. Ela se foi...
O que me resta, hoje, é uma foto e um cigarro queimado no cinzeiro ao lado.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Call me

Todas as outras malas já estavam no táxi que me esperava lá fora. Só restara, uma. Olhei pela ultima vez o apartamento que fora alvo de tantas fases boas e ruins da minha vida. Apaguei a ultima luz acesa e fui caminhando em direção a porta. Caminhava em passos lentos e nostálgicos, peguei na maçaneta. Aquela era a separação mais difícil, o meu cantinho sendo deixado pra trás pra continuar a caminhada do crescimento individual. Instantes antes de trancar a porta, o telefone tocou. Resolvi deixar tocar algumas vezes antes de atender, sinceramente eu não queria que ninguém soubesse que eu estava indo embora hoje. Sempre odiei despedidas e essa era a mais dolorosa de todas. Depois dos toques incessantes atendi ao telefone, era ela. Aquela voz suave e doce, que eu tanto amava escutar.
- Oi amor, falei.
Ela queria conversar, mas eu estava apressado demais para conversas agora. Mal falei com ela, ao mesmo tempo em que eu queria conversar eu tinha um avião me esperando e outra vida do outro lado do mundo. Não podia dar falsas esperanças. Na verdade, não eram falsas esperanças, era que o nosso amor teria que esperar, mais uma vez. Como todas as outras vezes.
- Boa viagem. Ela sussurrou.
A voz triste dela de me ver partir, cortou meu coração. Os nossos desencontros e encontros tomaram uma força violenta dentro da minha cabeça que mal pude escutar ela dar tchau. Desliguei no impulso. Fechei a porta, tranquei. Desci o elevador e entrei no táxi. Cheguei a tempo no aeroporto, embarquei. Tinha tantas coisas pra fazer que mal tive tempo para pensar como eu tinha agido com ela. Eu que agora só queria pensar no meu destino, não soube que ela ficou escutando o tu-tu-tu-tu-tu... do telefone quando eu desliguei, eu também não soube que ela falou que me amava e que era pra eu ficar. Desliguei rápido demais. Eu só soube disso, quando desembarquei no destino e me ligaram falando que ela... que ela... Sempre me amou...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Estado Pleno...

Não, você não sabe como to me sentindo agora. Essa sensação maravilhosa de utilidade, de crescimento, amadurecimento, sem precisar de você do meu lado tem sido tão boa. Não sei explicar, só sei sentir. Estou aprendendo tanto comigo mesma, descobrindo meus limites ou a falta deles. Precisava muito disso. E não havia outra hora pra ser mais perfeito, do que agora. É tão bom passar por você e descobrir que meu coração não faz mais alvoroço nenhum e que meu cérebro não inventa mil maneiras de chamar tua atenção. Eu simplesmente mudei. Agora meu bem, saiba conviver com isso. Talvez seja demais pra você saber isso tudo, por essa razão me olhas dessa forma, como se não importasse. Me contaram que você anda pelos cantos chamando meu nome, não por que eu quis saber, mas por acharem que podia te dar uma nova chance. E eles estavam enganados, não posso. Não existe mais outra forma. Todas as chances se esgotaram. Passei por ti meu bem, mas não posso entrar na sua vida novamente. E felizmente não quero entrar. Nunca pensei dizer isso, mas hoje é o que me faz tão bem.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mãe

Resolvi ligar, o calendário marcava uma data importante. Nunca fui, mesmo, de me ligar a datas feitas pra puro comércio. Era o único motivo pra ligar depois de tanto tempo longe. Não que fosse o único, mas nesse momento depois de tantas coisas, eu sabia que ela estava bem. Apesar de não ligar, sabia por outros modos, outras pessoas.
O telefone tocou inúmeras vezes antes de ser atendido por uma voz desconhecida.
- Alô? Mãe? – Fazia tempo que eu não falava aquela palavra de três letrinhas que desde pequena amei chamar.
- Alô... Ah a dona Helena não está. Queres deixar recado?
Fiquei revoltada, além de atender uma mulher completamente desconhecida, a minha mãe ainda não estava? A raiva e a culpa por não ligar tanta outras vezes me consumiram.
- Não, obrigada. Bati o telefone, sem esperar resposta.
Arrumei uma pequena mala, peguei tudo o precisava para o final de semana, todos os trabalhos que precisava terminar e resolvi fazer uma surpresa.
Dirigi pro outro lado da cidade. Fazia tempo que não ia por aquele caminho. A saudade começou a apertar. Tentei lembrar o porquê de não ter vindo mais vezes, já que o percurso não era tão cansativo assim, mas não consegui.
Procurei uma casa verde, com um muro alto. Número 164, ainda me lembrava com clareza da casa onde passei toda minha infância. Procurei, procurei. Não achei. Parei, perguntei.
– Moça, aqui é a Rua 17?
- É sim, senhora.
Agradeci, estacionei o carro onde achava mais ou menos onde era minha antiga casa e sai andando procurando o número 164.
Achei três casas depois, o número estava escondido, atrás das grandes plantas e de um belo jardim que agora estava no lugar dos portões de ferro de antigamente. Até estranhei, por que a mamãe nunca gostara de plantas.
Apertei a campainha, meu coração acelerou, era uma mistura de saudade, aflições, brigas, alegrias, amor... Estava confusa. Será que fiz certo realmente em ter vindo assim, sem avisar? Tudo bem que era a casa da minha mãe, mas fazia tanto tempo desde a última vez que estivera aqui, que o medo da rejeição me tomou por completo e resolvi ir embora.
Quando já estava quase no carro, aquela voz conhecida gritou meu nome. Virei pra trás num movimento tão rápido que deixei a bolsa cair no chão. Era ELA. Como quando eu era criança e voltava da escola, sai correndo pros braços dela. Abracei com tanta força que a tirei do chão, sempre tão pequena. Não me lembrava o quanto eu tinha crescido. E de como o cheiro dela era sempre tão bom.
Peguei as coisas no carro, entrei em casa.
Naquela noite choveu e como eu sempre fazia em noites assim, dormi na cama dela. Agarradinha àquela mulher que sempre fora alguém com três simples letras: MÃE. 

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Recomeço!




Tantas mentiras, promessas não cumpridas e esperas desnecessárias a feriram. Tantos eu te amos ditos em vão e tantas lágrimas rolaram naquela face branquinha e lisa.
Naquele dia, como se acordasse de um pesadelo profundo e longo, mudou. Não de lugar, mas de decisões, escolhas, posições, postura e por que não de vida? Queria só o que tinha de melhor para se aproveitar, como na canção – “Se tudo pode ser melhor, ainda dá tempo... Do que é ruim eu me esqueço... O bom eu quero mais.”
Ela correu de braços abertos para a felicidade.
“Agora quero paz. Saiba que todo fim é um R-E-C-O-M-E-Ç-O.”


Música do Móveis Coloniais de Acaju - Indiferença. 

sábado, 22 de maio de 2010

Desatando-me

Belém, 12 de outubro de 1999.

Hoje pensei tanto em ti querido, na verdade meus pensamentos nunca saíram de ti um só momento. Mas hoje, foi bem mais forte. Sabes o que tenho passado ultimamente e a falta da tua mão na minha tem me causado revolta, perda e tristeza, profunda tristeza. Nunca te quis tão presente como agora, apesar de te querer sempre. Sei que a gente não anda muito bem, e que quando bati a porta do carro falando para nunca mais me procurar foi num momento de fúria, de raiva. Sabes mais do que ninguém que eu falei aquilo por não agüentar mais tuas sumidas e teus pós de piriplimplim. Mas agora duas semanas sem você, sem seus beijos, sem seus abraços, sem os teus carinhos, sem teus aconchegantes abraços na hora de dormi me trazendo pra mais perto de ti, sem teus pés nos meus no meio da noite, sem os teus eu te amo ao pé do ouvido. Ahhh, meu amor. Como tens feito mais falta do que o normal. Teu violão ainda está aqui no canto, pedindo aquela música que fizeste pra mim. Estamos todos sentindo a tua falta. Estou te pedindo pra voltar e esquecer tudo o aconteceu, começarmos do zero. Vamos tentar de novo, sabes que juntos sempre damos certos, separados é que causa terremotos. Volta, me desculpa. Sabes o quanto é difícil pra mim estar aqui, pedindo pra voltares. Nossos orgulhos sempre falaram mais alto. Mas eu não agüento mais essa distância e a falta que estais me fazendo. Estou abdicando dos meus orgulhos, dos meus princípios por ti. Volta?!

Ps.: Espero ansiosamente tua resposta.

 
Para sempre tua.

H.

Smeared Makeup

Olhos pintados, cabelos feitos, roupa impecável, fazia tempo que não se sentia tão bem, e tão confiante. A vontade de ver pessoas novas, até um amor novo estava disposta a encontrar naquela noite. A vontade de ter a noite maravilhosa vinha com ela na bolsa desde muitos sábados sem a fada madrinha. Só que como o encanto daqueles contos que lia quando criança. Acabava a meia noite. Era a hora exata de voltar a sua vidinha de sempre. Por mais revoltantemente que fosse sempre acatara ao encanto, ou melhor, a falta dele.



Maquiagem borrada, gotas salgadas rolavam por sua bochecha e percorriam até sua boca causando enjôo, queria dar seu grito de socorro, de liberdade como aquelas caras pintadas da época das diretas já, Abaixo a ditadura!!Fora repressão!! O AI-5 era ali, cedeu. Preferia a falta do encantamento a Barris cheios de água que afogariam seus sonhos por toda a vida.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Nouveau??!

No ônibus de volta pra casa, cabeça encostada na janela, pegando vento no rosto, adorava aquela sensação de liberdade que sempre buscara ter. Odiava era ter que encostar sua cabeça nas janelas, achava-as nojentas, e de fato eram imundas, mas o cansaço era tão grande que não resistiu. Na mão, um livro da Paula Dip, uma bibliografia de Caio Fernando Abreu. No pensamento, o beijo que o menino lhe dera minutos antes. Sabia que era um erro. E que ele tinha namorada. Mas não conseguia dizer não. Sabia que era mais uma daquelas historias que sairia com o coração partido. Mas não dizem que é só com um novo amor que se esquece o antigo? Sabia que não era amor, nem paixão nem coisa parecida, mas precisava ocupar sua mente com um alguém novo. Cansara-se do velho. Sabia disso tudo e não sabia de nada. Só sentia, não queria pensar, queria agir, queria mudar. Queria aqueles beijos, ou outro qualquer, queria uma, duas, três vezes, ou melhor, queria o beijo quando bem entendesse dar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Meu Herói

Sala de espera lotada, nos rostos a expressão de sofrimento, de perda, de falta. De falta de atendimento e ausência de saúde. Ver-te naquele meio, e eu ao teu lado, foi uma surpresa. Logo tu, sempre tão forte, lutador, atlético, saudável, exceto pela diabetes - doença do demônio. Nunca me mostraste fraqueza, mas ali me pedias socorro, me pedias mais amor, mais paciência, mais amor de filha. Eu nunca deixei de ter por ti, um dia se quer, amor. Minha dedicação a ti embora nunca parecesse clara, sempre foi completa.

Eu queria te colocar no colo como fizeste tantas vezes comigo, quando eu dormia na tua cama, quando eu dormia no carro ou mesmo quando eu estava doente. Mas a tua aparência de forte e inderrubável mal me deixava te abraçar.

A falta de calor humano em ti era o que eu tinha em excesso, não tinha pessoa mais certa pra estar ali do teu lado do que eu. E eu ficaria ali quanto tempo fosse possível. Comer, dormi, tomar banho... Nada disso importava agora. Importava era o teu bem estar, o teu conforto e a tua tranqüilidade.

Fiquei mais tranqüila te vendo comer, dormir, sorrir. Te ver dormindo era a minha gota de felicidade. Mal dormi a noite com medo de que algo acontecesse e sempre que respiravas um pouco mais forte eu levantava pra vê se tava tudo no lugar certo. Ficava te olhando à noite dormindo. Ter olheiras nunca havia tido um motivo tão bom.

Agora sentada aqui de madrugada na cama, te olhando mexer os dedos das mãos enquanto dormes, como sempre fizeste, me faz ver que as nossas diferenças nos aproximam e que esse amor só cresce a cada dia. Eu sempre neguei, mas sempre serás meu herói.

Herói este que dorme agora na minha frente, meio ferido, meio fraco. E na inversão dos fatos, sou tua heroína... Agora. Ou será que fui desde sempre?


terça-feira, 11 de maio de 2010

Pedaço do céu...

Já passava de 3 da manhã. Sucumbida de vontade, desceu dezesseis calculados e medrosos degraus.

Abriu a geladeira...

Lembrou-se das reclamações do seu pai sobre suas formas cevadas. Fez o ato contrario, mas parou no meio.

Tinha sido elogiada no trabalho hoje cedo. Poucas e rasas colheradas não fariam mal... Será?!

Pegou o pote, seu tesouro tava pela metade.

Comeu uma, duas, três, quarto colheradas.

Chega, falou alto para conseguir parar...

Abriu novamente o pote...

O que seriam mais cinco ou seis colheradas??!

sábado, 8 de maio de 2010

Papel em Branco...

Ela olhava fixamente o papel em branco... Milhares de pensamentos soltos.

Belém, 14 de Maio de 2009

Meu querido.

Uma confusão de sentidos me impede de te escrever e prosseguir. Como te falar isso? Decidir falar isso tudo não foi nada fácil. Nunca fui de te contar realmente tudo o que sentia. Sempre me fechei no mundo, na verdade, no meu mundo, principalmente, quando estavas por perto; Sempre tão alegre. E mesmo que não estivesses muito, nunca paravas para reparar em mim e os teus olhos não me encontravam quando eu os procurava. Deves estar pensando... Mas até agora ela só reclamou.

Eu sei, vou avançar. Calma! É difícil pra mim também. Mesmo escrevendo essa carta, parece que ainda escrevo com todo receio de te machucar. Por que tantas vezes tive esse medo, se várias vezes fui alvo da tua falta de maturidade? Essa é apenas mais uma das mil perguntas que tenho que te fazer... Eu tenho realmente que fazê-las? Por que se eu as fizer quero respostas. Vais conseguir me responder dessa vez? Ou vai ser como das outras vezes que tentei chegar perto e fugiste?

Tá, vai... respira. Eu sei que é muita informação nova. Eu sei que nunca abri a boca pra falar ou reclamar de qualquer coisa entre nós. Mas se vim é porque já estou dando meu último suspiro por essa relação... Minha última gota de suor e meu último adeus.

Eu estou demorando muito pra falar o que é né?! Mas é que também estou me preparando psicologicamente para escrever certo e com todas as letras dessa vez.

Tá, lá vai... Senta direito numa cadeira. Provavelmente vai demorar um pouco. Com essa carta, vim te dizer o quanto sinto a tua falta do meu lado, no meu dia-a-dia. Nossos dias são corridos, mas a falta que me fazes é absurda. A tua mão na minha, teu rosto tão perto do meu, teus risos... Não to te cobrando aquele amor de quando éramos mais novos, to te falando pra ter mais tempo pra mim, pra me machucar menos e me deixar te mostrar muita coisa de mim que ainda não consegui. Me deixa respirar aliviada do teu lado, ao invés de me obrigar a me esconder nessa máscara e fingir que está tudo bem. Me deixa te mostrar o melhor que eu sou. Me deixa mostrar que posso ser a melhor pra ti. Eu to pedindo apenas uma única chance, porque eu nunca tive se quer alguma.

Me deixa...?

Quando pensei em te escrever tava com o discurso feito e tudo num cronograma pra seguir. Mas parece que mesmo pela carta me causas essa aflição de sempre e acabo esquecendo o que ia escrever e como ia escrever. Parece que o motivo pelo qual eu escrevi já não faz mais sentido e me sinto uma psicopata querendo atenção e suplicando amor. Não me entenda mal, não to pedindo nada disso. Só to pedindo, para me reconheceres como alguém na tua vida...

Ela parou de escrever ali, pousou a caneta sobre a mesa... Olhou fixamente pro papel escrito... Embolou em suas mãos, parou na metade do movimento... Mas a covardia foi maior...

Como todas as outras... Essa carta também parou na lixeira....

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Café com leite.

Andava pelas ruas... Como quem se despede da cidade, caminhava devagar, atenta aos detalhes, as cores e aos cheiros, sempre gostara muito dos cheiros – era sua melhor memória. Parou em frente a um café, olhou pela vitrine, viu um casal de apaixonados no canto. Lembrou-se com saudade dele. Sim, dele. O menino que gostava de cafés. Ele chama de leite, mas pra ela era sim um café com leite. Mas, para ele, café tinha que ser puro.

Ainda restara uma hora de almoço e seu trabalho era no prédio ao lado. Resolveu entrar, procurou um lugar perto do casal. Encontrou uma mesa perto da janela, logo atrás deles. Perfeito. Queria ter aquele sentimento junto a eles. Fazia tempo, desde que o menino se fora, que ela não se apaixonava. Tinha decidido dar trégua ao coração, descansa meu bem. Pediu um café com leite, queria sentir o gosto daquela boca novamente. Apesar de não gostar muito de cafeína, tomou pela lembrança, pelo gosto dele, pela sensação de que a qualquer hora ele entraria pela porta.

Costumavam ir aquele café juntos, como aquele casal apaixonado que estava a sua frente. Muita coisa tinha mudado desde que fora lá pela ultima vez, há um ano atrás. As mesas se multiplicaram e o fluxo de clientes era mais intenso. Lembrou o porquê de ter escolhido o lugar naquela época – quase não havia movimento, era perfeito pra um casal, que se encontravam as escondidas. Aquela xícara de café desencadeou toda a lembrança que tentava esconder e se livrar durante longos 12 meses. Deixou o café pela metade, bastou poucos goles para ter aquela antiga sensação de felicidade, que apenas sentia quando ele tava perto.

Analisou o casal de namorados, onde tudo eram flores. Os risos eram iguais, as juras de amor, os clichês e tudo o que envolve paixão. Ela sentiu inveja daquela cena. Balançou a cabeça rindo de si mesma. Olhou pela primeira vez pra rua lá fora, viu uma casa velha com uma frase que a fez pensar muito em tudo o que tava [re]vivendo. “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta).

O tempo tava fechando quando saiu de lá, chuviscos começaram a cair... Correra para não se molhar, tinha pouco tempo para terminar sua pilha de inquéritos. Por falar em tempo, tempo era o que queria para conseguir vê-lo preparar uma xícara de café com leite. Tempo esse que não volta mais, tempo esse que só restou na lembrança, talvez dela... Uma xícara de café com leite.

sábado, 1 de maio de 2010

Coisas de irmãs...

Sentada do meu lado, ela me olhava como se quisesse se comunicar de alguma forma. Sabia que se falasse comigo eu apenas olharia condenando seu ato. Ela gritava, esperniava, revirava os olhos, mexia o canto da boca, tentando disfarçar a vontade de querer falar comigo. Inventava mil assuntos pra fazer com que eu falesse. Apenas respondia um seco: uhum.


Eu só queria ficar quieta naquela hora, minutos depois eu ia querer falar. Mas a vontade dela era que eu não parasse nessas circunstâncias. Fala, fala, fala- ela me implorava. Mas eu apenas continuava com meu seco: Uhum.

Meia hora depois...

Lá estava eu, sorrindo virada pra ela... Falando, falando e FALANDO.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Turbulência

Desde que olhei para trás e joguei meu ultimo beijo ao conhecido- desconhecido, não consigo pensar em outra coisa que não sejam míseros 10 dias que passei em flutuação no mar da esperança. As palavras antes tantas vezes desacreditadas e fingidas quando entravam nos meus ouvidos tornavam-se de novo máscaras reais e concretas de tudo já vivido. Embarcar era tão fácil, o difícil era deixar e terminar ali com um sentimento que por várias vezes não me deixou seguir em frente. Sabia mais do que ninguém que não passavam de frases feitas e clichês que se malograram com o tempo.

Metade de mim sabe que tudo não passa de ilusionismo, como as cartas de baralho que mesmo marcadas somem com um simples estalar dos dedos. Mas a outra metade insiste por ficar e acreditar que um dia eu fiz a diferença e que um dia todas aquelas palavras e aquelas lágrimas saíram sinceras.

Olhando da janela da grande aeronave vi a distancia e a saudade perder - se sob meus olhos. Éééé coração ele é leviano.... Não se pode deixar levar por quem tem incerteza como sobrenome. Melhor usar os milhares de quilômetros como desculpa para acabar com essa zaralhice.

Descalça


Cabeça baixa. Na mente várias coisas passavam. Ir embora? Ficar? Vale à pena tudo isso?!! Perguntas... Respostas. Cadê?! Sandálias nas mãos. Os pés caminhavam descalços por um caminho pouco, e ao mesmo tempo, muito conhecido. Tantas vezes por ali passou. Subindo as escadas, o lado sinistro mostrava pra onde ir. Cama feita. Roupas espalhadas pelo quarto, mas agora isso pouco importava. Trocou de roupa. Escovou os dentes. Deitou-se. Cobriu-se, não como todas às vezes. Dessa vez, queria fugir dali pra outro lugar. Um lugar que não se lembrasse daqueles olhos furta cor. Adormeceu... Tão rápido.

4 horas da manha, um cheiro incomum passou por seu nariz, um corpo pesado em cima do seu, uma mão acariciando seus cabelos... Lá estava o dono dos olhos furta cor que tanto queria esquecer. Um sussurro tentador nos seus ouvidos... Não, ela não podia ceder tão fácil, não depois de tudo o que acontecera. Mas movida pela saudade, pela vontade de ficar perto e pelo simples fato de que dali a 6 dias não estaria mais ali. Cedeu. Levantou-se e seguiu pro lado oposto. Estendeu-se ao comprido novamente, dessa vez um braço afagava seus cabelos e os olhos... Ahhh os olhos furta cor, arrancavam sorrisos da felicidade. Siim, respostas!!