domingo, 4 de dezembro de 2011

Por trás da cochia.

Ultima vez que havia pisado naquele palco tinha sido pra dançar. Naquela época ainda fazia parte do balé. Por trás das cochias, papai e mamãe sentados na fila do meio, alegres, esperando eu entrar e dar o meu show tão ensaiado dias a fio. Hoje, me encontro por trás das cochias novamente, uns 10kg mais forte (não que fosse gorda, mas o perfil de bailarina da época se fora e eu também havia crescido). Dessa vez era eu quem colocava as meninas pra dançar e ah, elas também são minhas alunas. Hoje, eu não dou mais o meu show, elas dão por mim. Meus pliês e grand jets estão em cada menininha ali no palco, em cada pedaço da coreografia montada. Dessa vez, não tem mais o papai e a mamãe na platéia para verem meu show. Hoje, nem escutar meu nome como professora do evento eles podem. Mas por trás das cochias, ainda faço o mesmo ritual de beijar o chão e dar três pulinhos, como se fosse mais um show meu, que no lugar, quem faz são elas: Minhas alunas. 

sábado, 12 de novembro de 2011

Uma voz, apenas.

Saindo do trabalho, toda apressada cheia de coisas nas mãos, bolsa, livros e mais livros... E então o telefone toca, quase deixa tudo cair pra tentar atender ao telefone e quando olhou, um numero desconhecido. Aquele revirar dos olhos característico, sempre imaginando que é alguém ligando errado. E quando ela atendeu...
-Alô.
-Oi linda, como você está? 
- Quem está falando? 
-Esqueceu tão rápido assim de mim?
Ela odiava ter que adivinhar quem estava falando, mas quando escutou o "já esqueceu de mim". Logo reconheceu a voz.
-Oi, estou bem e você?
-Estou ótimo. 
Ela pensou o porque dele estar ligando depois de tanto tempo, tantos desencontros, tantas brigas. 
Como sempre, ele adivinhou o pensamento dela.
-Deves estar pensando por que eu liguei, mas liguei pra te dizer que to com saudade e sempre vou te amar. Independente do que aconteça. 
Ela ficou durante um bom tempo, parada no meio da rua, observando os carros passarem, calada ao telefone. 
-Ué, ainda estas ai lindona?
-Estou sim, é que estava entrando no carro - Ela mentiu. 
-Obrigada por ligar, espero que você esteja bem. Agora tenho que desligar, outra hora a gente se fala. - Tirou o telefone no ouvido e estavas preste a desligar quando ele ainda falou do outro lado.
-Espera. Me escuta. Sei que eu já errei muito mas quero te dizer que mesmo com todos os nossos problemas e você me tratando mal, eu te amo muito. Não consigo te esquecer. Pena que não deu certo pra nos dois, mas sei que eu sempre vou te amar. E sei que me amas também. Um dia eu ainda tenho a esperança que vamos voltar a ser felizes juntos. E sei que a pessoa com quem você está se relacionando agora é apenas uma paixão que logo logo vai deixar. Por que eu te amo, e tu me amas. E não há nada que vá mudar isso. Essa história, ninguém apaga, ninguém destrói. 
Ela estava ao prantos, parada em frente ao seu carro, por que ele sempre sabia o que dizer quando ligava. Poderia demorar a ligar ou dá chás de sumiço. Mas sabia que quando ele ligasse era na voz dele que ela se acalmava, era com ele que ela sorria de verdade. 
-Eu te tenho que desligar- Ela falou.
-Tudo bem, eu entendo. Obrigada por me escutar, e olha, saiba que eu nunca te esqueci. 
-Tchau!
-Tchau linda. 
Ela desligou o telefone, sentou finalmente no carro. Bateu a porta, ligou o rádio no ultimo volume e chorou, chorou e chorou. Não por ele ter ido embora, nem nada. Mas por saber que tudo aquilo era verdade. E que ainda era ele quem ela amava e não havia outra voz se não a dele que ela queria escutar.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Espelho.


Meio perdida, me olho tanto no espelho e tudo o que vejo é uma cara amassada e um monte de interrogações. Passei de novo o dia inteiro dormindo. Talvez assim tudo passe mais rápido, e agosto vire logo setembro que vira outubro que vira novembro e logo logo vem um novo ano. Mas tudo seria fácil se dormir fosse a solução. Acordo cansada, cansada da vida, cansada das dúvidas, dos medos, das desilusões, dos amores, ou dos não-amores... Tudo se torna totalmente sem sentido agora. Não sei pra onde vou, se vou, o que vou fazer, se realmente quero fazer. Como agora, e o porquê de escrever tudo isso. Quando penso no que faço minha vontade é fazer cada dia mais, mas quando não faço minha vontade é nunca sair da inércia. Quantas vezes mais preciso inventar mil desculpas pra ficar só? Matei meus amores, meus amigos, meus sonhos, meus risos e minha felicidade. Restaram meus autores e talvez até eles estejam me abandonando. Pisco em frente ao espelho, pra vê se aquela imagem feia e tortuosa se apaga e volta aquela menina com riso fácil e amores eternos. Difícil fazer milagre, feitiço... Tenho certeza se tivesse o espelho da bruxa da branca neve, ele me diria com todas as letras que era a mulher mais feia da face da terra.
E aqui se vai mais um dia, inútil, sem risos, sem alegrias, com falsas promessas de um dia melhor...
E aqui está mais uma noite mal dormida, esperando o dia raiar pra eu me olhar no espelho e vê alguém que novamente “dormiu” demais. 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Fiel.

Passei em frente à igreja. Povo se arrumando, conversando. Missa ainda iria começar. Não sei realmente o que me chamou atenção, nunca mais tinha ido à igreja, não sabia mais as músicas, nem em que hora responder os versinhos. Não sabia mais de nada. Mas algo me fez parar, colocar as mãos nos bolsos e observar como tudo caminhava lá dentro. Olhei aqui de fora, um homem entrando, meio receoso, blusa cinza, calça cinza num tom mais escuro, cabelo meio desgrenhado, sapato preto, no rosto uma expressão de dor. Fiquei observando ele entrar. Semi ajoelhou-se, fez o sinal da cruz e sentou-se num dos primeiros bancos da igreja.
Aquele homem me intrigou. Entrei. Fiz o sinal da cruz, caminhei meio intimidado, mas continuei, sentei em um dos dois bancos, atrás do moço. E decidi que assistiria a missa toda. Queria lembrar-me dos velhos tempos.
Padre muito simpático, cantava as músicas com o maior vigor. O meu observado sabia todas, canta, fechava os olhos. Eu até me perdia nos senta e levanta que possuem nas missas. Tinha me esquecido o quanto é cansativo ficar levantando e sentando toda hora.
Hora da hóstia, entrou na fila, abriu a boca, voltou ao seu lugar de cabeça baixa mostrando respeito ao corpo do seu Pai. Ajoelhou-se, rezou, um, dois ou três Pai Nossos. Levantou-se e continuou, atento ao que o padre falava.
Hora de dar paz de cristo a quem está tão próximo da gente, quis ir lá chegar mais perto. Andei dois bancos e estendi minha mão, ele me olhou, riu um riso meio fraco, entretanto me estendeu a mão e falou paz de cristo. Retribui e voltei ao meu banco.
Hora do dizimo, carteira surrada, ele tirou umas moedas do fundo. Esperou os ajudantes passarem, entregou sorrindo.
No sermão, o padre tocou no assunto daquele homem que chegara atirando na escola e matara 12 crianças. Perdoe ele meus filhos, ele era um doente. Precisava de ajuda. Precisava de Jesus, precisa de amor...
Esse deve ter sido um dos motivos que parei de ir à missa. Os sermões.
Hora de ir embora. O meu observado saiu sem pressa. Quieto, parecia já conhecer o movimento de todos ali. Saiu da igreja, acabando minha divertida tarde de observar pessoas desconhecidas.
Horas mais tarde, ele estava em casa, espancando a mulher por ter salgado a comida.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sentaste-me no sofá, segurando minha mão, olhaste nos meus olhos e me disseste que precisavas conversar. Estavas séria, era tão estranho te ver séria daquele jeito. Eras sempre muito brincalhona e o teu sorriso era a coisa mais linda do mundo. Não dei tanta importância, continuei olhando pra televisão. Imaginei que era mais uma das tuas brincadeiras toscas que me faziam rir demasiadamente.
- Meu amor, eu to falando sério dessa vez
- Fale amor, estou te escutando.... – Meus olhos ainda estavam fixos na televisão à frente.
Ficaste calada durante uns minutos que pareceram poucos pra mim, mas falaste que foram longos e arrastados minutos.
Entendi o silencio, olhei pra então pra ti. Estavas com os olhos cheios de água, vi meu reflexo nos teus neles. Fiquei com medo, começaste a me assustar.
Perguntei o que havia acontecido e tu não me respondias.
Achei que era mais um daqueles teus showzinhos que não levariam a nada.
Voltei meus olhos pra televisão, se quisesses, mais tarde, falarias.
....
....
...
...
...
EU TE AMO.... – Falaste entre um soluço e outro.
Gelou-me tudo por dentro, fiquei feliz e com medo daquele sentimento. Te olhei devagar pra vê se realmente era verdade aquilo tudo.
Foi então que eu percebi o quanto te doía amar. Me amar. Peguei tuas mãos. Enxuguei-as, estavam tão frias, limpei tuas lágrimas, te abracei e falei – eu também meu amor, eu também.
Descobri, contigo me olhando com aquelas lágrimas nos olhos que realmente eras tu a mulher da minha vida.

sábado, 25 de setembro de 2010

Encontros num telhado.





Madrugada, talvez umas 4 horas da manhã. Não sei, o relógio está longe e nas minhas circunstancias isso já não importa. Acordei, de novo no meio da noite, acendi o cigarro e fui ao encontro daquela foto... Anos haviam passado, mas a lembrança dela, do beijo, dos abraços, dos encontros às escondidas, do cheiro... Ah! O cheiro... Era tudo ainda tão minucioso.
Lembro muito bem. Está quase nítido. Ela sempre chegava primeiro nos nossos encontros escondidos num telhado. Lá de cima dava pra ver toda a cidade. Gostava tanto de faltar aulas de matemática para ficar com ela. Tudo era escondido por que ela não podia namorar um sujeito qualquer feito eu.
Ela era de família influente no bairro, eu morador da rua de baixo. Não era nada promissor ter um namorado feio, pobre, sem futuro. Mas nós nos amávamos e status não é tão importante quando se ama.
A cena dessa foto não sai da minha cabeça. Lembro-me bem quando ela pediu para que nós encontrássemos no meio da semana. Achei um pouco estranho, já tínhamos dias certos juntos. Apaixonado, fui sem nem perguntar o por que.
Ela me abraçou tão forte quando me viu. Só ela fazia eu me sentir tão especial. Passamos uma das tarde mais maravilhosas que já vivi na minha vida. Eu sabia que tinha algo de errado, podia sentir isso no olhar dela. Olhava-me como se o mundo fosse acabar em instantes, e seus beijos pareciam suplicas de amor e perdão. Perguntei inúmeras vezes o que havia acontecido e ela falava que só tinha sentido uma saudade arrebatadora.
Depois do pôr-do-sol ela se despediu de mim. Como todas as outras vezes, ela saiu na frente, pra que ninguém nos visse juntos, e eu ficava lá de cima do telhado olhando ela subindo a rua. Deu-me o ultimo beijo e falou que me amava. Desceu do telhado, deixando pra trás aquele perfume de rosas que eu amava tanto.
O dia seguinte era dia de matar aula de matemática e ir ao encontro dela. Ela não foi. Não foi no outro, nem no outro...
Eu sabia que havia algo errado, só não quis acreditar que ela podia me deixar assim. Não sei pra onde foi, nem porque foi, nem como foi. Ela se foi...
O que me resta, hoje, é uma foto e um cigarro queimado no cinzeiro ao lado.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Call me

Todas as outras malas já estavam no táxi que me esperava lá fora. Só restara, uma. Olhei pela ultima vez o apartamento que fora alvo de tantas fases boas e ruins da minha vida. Apaguei a ultima luz acesa e fui caminhando em direção a porta. Caminhava em passos lentos e nostálgicos, peguei na maçaneta. Aquela era a separação mais difícil, o meu cantinho sendo deixado pra trás pra continuar a caminhada do crescimento individual. Instantes antes de trancar a porta, o telefone tocou. Resolvi deixar tocar algumas vezes antes de atender, sinceramente eu não queria que ninguém soubesse que eu estava indo embora hoje. Sempre odiei despedidas e essa era a mais dolorosa de todas. Depois dos toques incessantes atendi ao telefone, era ela. Aquela voz suave e doce, que eu tanto amava escutar.
- Oi amor, falei.
Ela queria conversar, mas eu estava apressado demais para conversas agora. Mal falei com ela, ao mesmo tempo em que eu queria conversar eu tinha um avião me esperando e outra vida do outro lado do mundo. Não podia dar falsas esperanças. Na verdade, não eram falsas esperanças, era que o nosso amor teria que esperar, mais uma vez. Como todas as outras vezes.
- Boa viagem. Ela sussurrou.
A voz triste dela de me ver partir, cortou meu coração. Os nossos desencontros e encontros tomaram uma força violenta dentro da minha cabeça que mal pude escutar ela dar tchau. Desliguei no impulso. Fechei a porta, tranquei. Desci o elevador e entrei no táxi. Cheguei a tempo no aeroporto, embarquei. Tinha tantas coisas pra fazer que mal tive tempo para pensar como eu tinha agido com ela. Eu que agora só queria pensar no meu destino, não soube que ela ficou escutando o tu-tu-tu-tu-tu... do telefone quando eu desliguei, eu também não soube que ela falou que me amava e que era pra eu ficar. Desliguei rápido demais. Eu só soube disso, quando desembarquei no destino e me ligaram falando que ela... que ela... Sempre me amou...