quarta-feira, 5 de maio de 2010

Café com leite.

Andava pelas ruas... Como quem se despede da cidade, caminhava devagar, atenta aos detalhes, as cores e aos cheiros, sempre gostara muito dos cheiros – era sua melhor memória. Parou em frente a um café, olhou pela vitrine, viu um casal de apaixonados no canto. Lembrou-se com saudade dele. Sim, dele. O menino que gostava de cafés. Ele chama de leite, mas pra ela era sim um café com leite. Mas, para ele, café tinha que ser puro.

Ainda restara uma hora de almoço e seu trabalho era no prédio ao lado. Resolveu entrar, procurou um lugar perto do casal. Encontrou uma mesa perto da janela, logo atrás deles. Perfeito. Queria ter aquele sentimento junto a eles. Fazia tempo, desde que o menino se fora, que ela não se apaixonava. Tinha decidido dar trégua ao coração, descansa meu bem. Pediu um café com leite, queria sentir o gosto daquela boca novamente. Apesar de não gostar muito de cafeína, tomou pela lembrança, pelo gosto dele, pela sensação de que a qualquer hora ele entraria pela porta.

Costumavam ir aquele café juntos, como aquele casal apaixonado que estava a sua frente. Muita coisa tinha mudado desde que fora lá pela ultima vez, há um ano atrás. As mesas se multiplicaram e o fluxo de clientes era mais intenso. Lembrou o porquê de ter escolhido o lugar naquela época – quase não havia movimento, era perfeito pra um casal, que se encontravam as escondidas. Aquela xícara de café desencadeou toda a lembrança que tentava esconder e se livrar durante longos 12 meses. Deixou o café pela metade, bastou poucos goles para ter aquela antiga sensação de felicidade, que apenas sentia quando ele tava perto.

Analisou o casal de namorados, onde tudo eram flores. Os risos eram iguais, as juras de amor, os clichês e tudo o que envolve paixão. Ela sentiu inveja daquela cena. Balançou a cabeça rindo de si mesma. Olhou pela primeira vez pra rua lá fora, viu uma casa velha com uma frase que a fez pensar muito em tudo o que tava [re]vivendo. “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta).

O tempo tava fechando quando saiu de lá, chuviscos começaram a cair... Correra para não se molhar, tinha pouco tempo para terminar sua pilha de inquéritos. Por falar em tempo, tempo era o que queria para conseguir vê-lo preparar uma xícara de café com leite. Tempo esse que não volta mais, tempo esse que só restou na lembrança, talvez dela... Uma xícara de café com leite.

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