quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mãe

Resolvi ligar, o calendário marcava uma data importante. Nunca fui, mesmo, de me ligar a datas feitas pra puro comércio. Era o único motivo pra ligar depois de tanto tempo longe. Não que fosse o único, mas nesse momento depois de tantas coisas, eu sabia que ela estava bem. Apesar de não ligar, sabia por outros modos, outras pessoas.
O telefone tocou inúmeras vezes antes de ser atendido por uma voz desconhecida.
- Alô? Mãe? – Fazia tempo que eu não falava aquela palavra de três letrinhas que desde pequena amei chamar.
- Alô... Ah a dona Helena não está. Queres deixar recado?
Fiquei revoltada, além de atender uma mulher completamente desconhecida, a minha mãe ainda não estava? A raiva e a culpa por não ligar tanta outras vezes me consumiram.
- Não, obrigada. Bati o telefone, sem esperar resposta.
Arrumei uma pequena mala, peguei tudo o precisava para o final de semana, todos os trabalhos que precisava terminar e resolvi fazer uma surpresa.
Dirigi pro outro lado da cidade. Fazia tempo que não ia por aquele caminho. A saudade começou a apertar. Tentei lembrar o porquê de não ter vindo mais vezes, já que o percurso não era tão cansativo assim, mas não consegui.
Procurei uma casa verde, com um muro alto. Número 164, ainda me lembrava com clareza da casa onde passei toda minha infância. Procurei, procurei. Não achei. Parei, perguntei.
– Moça, aqui é a Rua 17?
- É sim, senhora.
Agradeci, estacionei o carro onde achava mais ou menos onde era minha antiga casa e sai andando procurando o número 164.
Achei três casas depois, o número estava escondido, atrás das grandes plantas e de um belo jardim que agora estava no lugar dos portões de ferro de antigamente. Até estranhei, por que a mamãe nunca gostara de plantas.
Apertei a campainha, meu coração acelerou, era uma mistura de saudade, aflições, brigas, alegrias, amor... Estava confusa. Será que fiz certo realmente em ter vindo assim, sem avisar? Tudo bem que era a casa da minha mãe, mas fazia tanto tempo desde a última vez que estivera aqui, que o medo da rejeição me tomou por completo e resolvi ir embora.
Quando já estava quase no carro, aquela voz conhecida gritou meu nome. Virei pra trás num movimento tão rápido que deixei a bolsa cair no chão. Era ELA. Como quando eu era criança e voltava da escola, sai correndo pros braços dela. Abracei com tanta força que a tirei do chão, sempre tão pequena. Não me lembrava o quanto eu tinha crescido. E de como o cheiro dela era sempre tão bom.
Peguei as coisas no carro, entrei em casa.
Naquela noite choveu e como eu sempre fazia em noites assim, dormi na cama dela. Agarradinha àquela mulher que sempre fora alguém com três simples letras: MÃE.