sexta-feira, 15 de abril de 2011

Fiel.

Passei em frente à igreja. Povo se arrumando, conversando. Missa ainda iria começar. Não sei realmente o que me chamou atenção, nunca mais tinha ido à igreja, não sabia mais as músicas, nem em que hora responder os versinhos. Não sabia mais de nada. Mas algo me fez parar, colocar as mãos nos bolsos e observar como tudo caminhava lá dentro. Olhei aqui de fora, um homem entrando, meio receoso, blusa cinza, calça cinza num tom mais escuro, cabelo meio desgrenhado, sapato preto, no rosto uma expressão de dor. Fiquei observando ele entrar. Semi ajoelhou-se, fez o sinal da cruz e sentou-se num dos primeiros bancos da igreja.
Aquele homem me intrigou. Entrei. Fiz o sinal da cruz, caminhei meio intimidado, mas continuei, sentei em um dos dois bancos, atrás do moço. E decidi que assistiria a missa toda. Queria lembrar-me dos velhos tempos.
Padre muito simpático, cantava as músicas com o maior vigor. O meu observado sabia todas, canta, fechava os olhos. Eu até me perdia nos senta e levanta que possuem nas missas. Tinha me esquecido o quanto é cansativo ficar levantando e sentando toda hora.
Hora da hóstia, entrou na fila, abriu a boca, voltou ao seu lugar de cabeça baixa mostrando respeito ao corpo do seu Pai. Ajoelhou-se, rezou, um, dois ou três Pai Nossos. Levantou-se e continuou, atento ao que o padre falava.
Hora de dar paz de cristo a quem está tão próximo da gente, quis ir lá chegar mais perto. Andei dois bancos e estendi minha mão, ele me olhou, riu um riso meio fraco, entretanto me estendeu a mão e falou paz de cristo. Retribui e voltei ao meu banco.
Hora do dizimo, carteira surrada, ele tirou umas moedas do fundo. Esperou os ajudantes passarem, entregou sorrindo.
No sermão, o padre tocou no assunto daquele homem que chegara atirando na escola e matara 12 crianças. Perdoe ele meus filhos, ele era um doente. Precisava de ajuda. Precisava de Jesus, precisa de amor...
Esse deve ter sido um dos motivos que parei de ir à missa. Os sermões.
Hora de ir embora. O meu observado saiu sem pressa. Quieto, parecia já conhecer o movimento de todos ali. Saiu da igreja, acabando minha divertida tarde de observar pessoas desconhecidas.
Horas mais tarde, ele estava em casa, espancando a mulher por ter salgado a comida.

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